Fotografia miserável<br> num jornal miserável…

Pedro Campos

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I - De­fine-se como «o jornal global em es­pa­nhol». Coisas do mar­ke­ting, porque a sua me­lhor de­fi­nição seria «o jornal mais mi­se­rável de todas as Es­pa­nhas». Mas, claro, isso não ven­deria...

El País, que nasceu pouco de­pois da morte de Franco, faz parte do grupo me­diá­tico Prisa – muito li­gado à di­reita do PSOE – que, desde há dois anos, tem como dono mai­o­ri­tário a Li­berty Ac­qui­si­tion Hol­ding, cujos ac­ci­o­nistas prin­ci­pais são os norte-ame­ri­canos Ni­colas Berg­gruen e Martin Fran­klin. O grupo me­diá­tico in­clui vá­rias es­ta­ções de rádio, entre eles o cir­cuito de SER, o jornal des­por­tivo Diário As, outro sobre temas eco­nó­micos, ca­nais de te­le­visão e vá­rias casas edi­toras, entre elas Aguilar, Al­fa­guara e San­til­lana. Co­nhe­cido isto, é fácil en­tender por que é um dos grandes arautos do neo-li­be­ra­lismo sel­vagem e está muito longe dos va­lores de­mo­crá­ticos que apregoa de­fender. Um dos seus alvos prin­ci­pais são os re­gimes pro­gres­sistas da Amé­rica La­tina, na me­dida em que, uns mais ou­tros menos, têm to­mado me­didas que travam a de­pre­dação do con­ti­nente por parte de em­presas es­pa­nholas na área fi­nan­ceira ou dos re­cursos na­tu­rais, es­pe­ci­al­mente energia e água. E de entre esses re­gimes o go­verno bo­li­va­riano é, sem sombra de dú­vida, o alvo a abater, o que ex­plica a sua par­ti­ci­pação no golpe de Abril de 2002 e o rá­pido re­co­nhe­ci­mento da di­ta­dura de Car­mona, o breve. Ra­zões? Talvez uma seja exem­plar. San­til­lana tinha pra­ti­ca­mente o mo­no­pólio dos textos es­co­lares. Esse «ne­gócio» foi ar­rui­nado por Hugo

Chávez. Agora os alunos dis­põem de ou­tros textos – com ou­tros con­teúdos adap­tados à nova re­a­li­dade po­lí­tica – que são de dis­tri­buição gra­tuita. Grande pe­cado!


II – Um erro que não foi erro. Quando este jornal mi­se­rável de­cide pu­blicar uma ale­gada foto de Hugo Chávez en­tu­bado não se trata de um erro, mas sim de uma pro­vo­cação – outra mais – contra o pro­cesso ve­ne­zu­e­lano. Con­tudo, pa­recem não ter cal­cu­lado ade­qua­da­mente a re­acção que iria

pro­vocar um acto tão reles, na Amé­rica La­tina, no mundo e até entre os seus lei­tores. A mesma fo­to­grafia foi ofe­re­cida an­te­ri­or­mente ao seu con­cor­rente El Mundo – não menos re­ac­ci­o­nário – mas este re­jeitou-a por falsa e porque sen­tiram que Hugo Chávez me­recia um mí­nimo de dig­ni­dade.

Quando El País de­cide pu­blicar essa fo­to­grafia fê-lo sa­bendo que a mesma era falsa e que cor­res­pondia a um vídeo de 2008, tal como foi de­nun­ciado, dias antes da pu­bli­cação, pelo canal ofi­cial da Ve­ne­zuela. De facto, a dita – e vá­rias ou­tras igual­mente falsas – anda há dias a dar voltas pelas redes so­ciais. Nuns casos tra­tando de a passar como ver­da­deira, nou­tros a de­nun­ciar a fal­si­fi­cação. Como es­creve Juan Carlos Mo­ne­dero, pro­fessor uni­ver­si­tário es­pa­nhol, se «a luta de uma pessoa pela sua vida num qui­ró­fano fosse de in­te­resse na­ci­onal, o jornal El País teria pu­bli­cado

pelo menos uma dúzia de fo­to­gra­fias do chefe de Es­tado es­pa­nhol na mesa de ope­ra­ções.» (...) «As ra­zões de El País para pu­blicar essa fo­to­grafia são ou­tras. Não têm que ver com a dig­ni­dade».


III – Con­fron­tados com a cen­sura mas­siva dos seus lei­tores, o pro­vedor do leitor e o di­rector do jornal fazem ma­la­ba­rismos ro­cam­bo­lescos para ex­plicar o inex­pli­cável. Metem os pés pelas mãos. Co­me­çaram di­zendo que uma en­fer­meira cu­bana teria pas­sado a fo­to­grafia para o ex­te­rior e agora

afirma-se que foi uma ve­ne­zu­e­lana que a trans­mitiu por what­sapp. Dentro de pouco dirão que foi «a prima de uma vi­zinha que está ca­sada com filho da por­teira da em­presa onde tra­balha a cu­nhada do tio de ....». Como bem disse a pre­si­dente ar­gen­tina aquilo não é uma fo­to­grafia, «é uma ca­na­lhada».

Mas ainda que apa­nhados com a boca na bo­tija, estes fa­ri­seus não re­co­nhecem a mal­dade que os anima e afirmam que tudo se reduz a um «erro de enorme gra­vi­dade» pro­vo­cado pela falta de in­for­mação por parte do go­verno ve­ne­zu­e­lano, es­que­cendo que todos os dias, às vezes mais de uma vez, apa­recem nos media co­mu­ni­cados ofi­ciais sobre a si­tu­ação de Hugo Chávez.

La­men­ta­vel­mente para estes ne­cró­fagos as no­tí­cias não são as que gos­ta­riam de co­nhecer. Eles des­frutam mais com as que são ela­bo­radas em Miami ou então pre­ferem «a as­ses­soria» de Moisés Naim, um dos res­pon­sá­veis pelo pro­grama eco­nó­mico ne­o­li­beral de Carlos An­drés Pérez – que levou à re­be­lião po­pular de 1989 – que se ca­rac­te­riza por mentir sis­te­ma­ti­ca­mente sobre a Ve­ne­zuela in­ven­tando re­sul­tados eco­nó­micos con­tra­ri­ados pelo pró­prio Banco Mun­dial, in­sus­peito de cha­vismo, e do qual foi di­rector.



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